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Urgência e Emergência no Brasil

 

Texto por: Sílvia Barbosa do Carmo - Data: 16/11/2018

URGÊNCIA x EMERGÊNCIA

Segundo a o Conselho Regional de Medicina define-se URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata. Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato.

 

Nesse contexto, a prática da medicina realizada em pacientes que necessitam de atendimento diante de uma situação imprevista de uma doença aguda ou lesão é caracterizada como Medicina de Emergência. A sua prática abrange desde os cuidados pré-hospitalares até o atendimento hospitalar, requerendo conhecimentos de todas as especialidades intimamente relacionadas a ela.

Rede Atenção de Urgência e Emergência no Brasil

O sistema de saúde brasileiro tem como diretriz a integralidade dos serviços de saúde e essa demanda expande-se também para os serviços de urgência e emergência que compõe a Rede de Atenção a Urgência e Emergência (RUE). São componentes das RUEs.

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Figura 1: Componentes da interface da RUE. Adaptação UMA- SUS/UFMA

Esses serviços devem funcionar de forma harmônica, dentro de um fluxo regulado e efetivo de atenção ao usuário.  O primeiro ponto a ser analisado é a necessidade de garantir a sustentação da vida no local ou em outro nível de atendimento, com condições de dar continuidade a assistência, no que podemos chamar de atendimento referenciado, ou seja, o conceito de atendimento de urgência/ emergência pressupõe o “atendimento em rede”; se não for possível manter a vida ou aliviar o sofrimento em um nível, passa-se imediatamente a outro nível assistencial. Essa e a lógica do fluxo regulado e efetivo (UMA-SUS/ UFMA).

Tabela 1: Componentes da Rede a Atenção de Urgência e Emergência de acordo com suas funções. Fonte: Adaptação do Manual Instrutivo da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde (SUS)

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Para um atendimento mais eficiente e humanizado dos pacientes que chegam aos serviços de urgência e emergência no Brasil é utilizado, durante o acolhimento, o Sistema Triagem de Manchester. A utilização dessa ferramenta torna-se possível uma melhor organização do serviço a qual procura diminuir os índices de mortalidade, agravamentos de patologia e a superlotações das unidades de atendimento. A metodologia baseia-se na tomada de decisões a partir de prioridades clínicas. Resumidamente o sistema de “Manchester é um sistema de triagem que classifica os pacientes através de cores após uma avaliação que inclui verificação de seus sinais, sintomas e nível da dor, que representam, assim, a gravidade do quadro e o tempo de espera (urgência) para atendimento de cada paciente” (AMARAL, 2017). A Tabela 2 contém a classificação de cores por período de tempo de espera e gravidade clínica e a Figura 2 explica o fluxograma de classificação de acordo com a cores.

Tabela 2: Sistema de Classificação de Manchester. Fonte: Adaptação UNA-SUS/UFMA

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Figura 2: Fluxograma de acolhimento com classificação de risco. Fonte: UMA-SUS/UFMA

Como a emergência médica é vista no país?

O perfil epidemiológico do Brasil, de acordo com Secretaria de Vigilância e o Ministério da Saúde, revela uma alta morbimortalidade relacionada às violências e aos acidentes de trânsito entre jovens até os 40 anos e, acima desta faixa, uma alta morbimortalidade relacionada às doenças do aparelho circulatório, como o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, dados demográficos mostram que o país passa por rápido envelhecimento populacional, o que contribui para o aumento de doenças crônicas degenerativas. Este cenário mostra uma exigência por um serviço de emergência eficiente no pais, visto que as principais causas de mortalidade no cenário nacional poderiam ser evitadas com um atendimento imediato eficiente.

 

As unidades de urgência e emergência médica no Brasil ainda são consideradas como uma das principais portas de entrada para o sistema de saúde, gerando grande demanda desses serviços. Essa dificuldade do serviço de urgência e emergência surge desde a atenção primária do sistema de saúde com a baixa resolutividade do atendimento e reduzidas estratégias de promoção da saúde. É comum a mídia exibir as unidades de pronto atendimento e pronto socorros superlotados, má qualidade de serviços, escassez de equipamentos e medicamentos para a realização dos procedimentos e tratamentos, mostrando a fragilidade desse serviço de saúde. Contextos como esse faz com que parte da população descridibilize sistemas de saúde universais como o SUS.

 

O problema em torno dos serviços de emergência no Brasil ultrapassa o âmbito de má gestão de recursos e superlotação das salas de espera da emergência. Um dos grandes obstáculos para a promoção de saúde no país é a ineficiência da educação em saúde da população brasileira. No caso das emergências médicas, a população não sabe qual serviço de saúde procurar mediante uma manifestação de doença, visto que não é dissipado, de forma eficiente, conhecimentos sobre conceitos de urgência, emergência, patologia crônica e aguda, por exemplo. Assim, existe uma cultura intrínseca que um indivíduo ao manifestar qualquer sintoma de alguma doença deve procurar imediatamente uma unidade de emergência, gerando, consequentemente, superlotação das mesmas.  

 

De acordo com estudos feitos com usuários dos serviços de urgência e emergência do país, os principais motivos de insatisfação com os atendimentos dos prontos-socorros e unidades de pronto atendimento são: tempo de espera inadequado, falta de confiança do serviço, modelo de atendimento inapropriado.

 

No âmbito de formação médica, tanto na graduação como na residência médica, existe um déficit de conhecimento quanto aos protocolos de emergência medica. Em muitos cursos não existe um programa direcionado para emergências clínicas, traumáticas ou não traumáticas dentro da grade curricular. Tal deficiência, na formação médica, vai de encontro com as estatísticas que mostram que a maioria dos médicos que trabalham em pronto atendimentos são recém-formados e estão na fase afirmação profissional, assim, muitas vezes, os profissionais frente aos atendimentos às emergências não possuem o devido preparo técnico nem emocional para exercer a função. Além disso, o estudo “Perfil dos médicos no Brasil” mostra que esses profissionais enfrentam desgastes por excesso de trabalho, jornada de trabalho prolongada, baixa renumeração, multiempregos, más condições de trabalho e excesso de responsabilidade. Todos esses fatores contribuem para a ineficiência do serviço de emergência médica. Além disso, na comunidade médica, ainda existe a cultura do médico emergencista como um plantonista que procura ascensão ou apresenta insucesso profissional, preconceito tal que deve ser combatido, pois sabe-se que o médico emergencista é essencial para a promoção de saúde da população.

 

Diante da realidade da Emergência no Brasil foi implementada a Rede de Atenção a Urgência e Emergência a fim de estruturar, organizar e humanizar o atendimento nas emergências brasileiras. Além disso, em 2016, Medicina de Emergência foi reconhecida como especialidade. Espera-se que com esse novo modelo de estruturação o serviço de urgência e emergência possa ser efetuado com maior eficiência e humanização.

História da Emergência Médica como especialidade no Brasil

A primeira sociedade médica destinada a Medicina de Emergência do Brasil foi fundada no Ceará, em 1985, e foi intitulada de Sociedade Cearense de Medicina de Emergência (SOCEMU), porém, foi perdendo força com o decorrer do tempo passou por um período de hibernação. Em 1992 a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo cria a disciplina de Emergências Clínicas, demonstrando a importância da área de estudo na formação medica. O estado pioneiro em fundar um Residência Médica em Emergência, que enfrentou grandes resistências, foi o Rio Grande do Sul em 1996. Já em 1998, a Sociedade Cearense de Medicina de Emergência volta a exercer suas atividades realizando diversos fóruns e congressos. Em 2003, o mesmo grupo que apoiou a implantação da Residência Medica de Emergências Clinicas, funda a Associação de Medicina de Emergência Clinica do Rio Grande do Sul (AMERS).

 

Em 2007, o I Congresso Brasileiro de Medicina de Emergência ocorre em Gramado possibilitando a reunião, pela primeira vez, dos diversos grupos que discutiam e aprofundavam os estudos em Medicina de Emergência no país. A Associação Brasileira de Medicina de Emergência surge em 2008, em Porto Alegre, e passa a ser uma das maiores organizações de medicina de emergência no país. A partir disso, foram realizados outros congressos colocando em pauta a importância do reconhecimento dessa área médica como especialidade e apenas em 2012, no II Fórum Nacional de Conselho Federal de Medicina, o Conselho Federal de Medicina publica sua primeira nota de apoio ao reconhecimento de Medicina de Emergência como especialidade.

 

Depois de diversas discussões internas entre sociedades de especialidades, Associação Médica Brasileira, Comissão Nacional de Residência Médica, Conselho Federal de Medicina e outras instituições, foi dada a notícia, em 2015, de que a Medicina de Emergência como especialidade traria grandes benefícios a sociedade a rede de atenção à saúde. Assim, em 2016 a Residência em Medicina de Emergência é reconhecida oficialmente de CFM. No mesmo ano Associação Medica Brasileira oficializa a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE) como a instituição de comando da Emergência Brasileira, sendo a sociedade que certificará todos os Especialistas em Medicina de Emergência Brasileiros na área adulta e pediátrica.

 

Depois desses anos de luta e resistência, a especialidade de Medicina de Emergência ganhou força no pais e hoje grandes instituições de referência médica ofertam a Residência em Medicina de Emergência. Atualmente são credenciados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e pelo CNRM, 24 novos programas de residência médica, distribuídos em diversos estados do país. Os somatórios do número de vagas autorizadas de Medicina de Emergência são de 84 vagas para R1, 81 vagas para R2 e 179 vagas para R3. Entretanto, 80% dessas vagas disponíveis não estão ocupadas, refletindo o reconhecimento recente das especialidades pelos órgãos competentes. Algumas dessas vagas disponíveis para R1 estão explicitadas na tabela a seguir:

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Estágios oferecidos a acadêmicos de medicina credenciados a ABRAMEDE

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Referências bibliográficas 

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Manual instrutivo da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde (SUS) / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. 84 p.: il.

 

Brasil. Resolução Conselho Federal Medicina nº 1451/95. DOU, 17 de março de 1995.

 

LIMA, C. A.; SANTOS, T. P.; ANDRADE, F. A. B.; BARBOSA, F. A.; COSTA, F. M.; CARNEIRO, J. A. Quality of emergency rooms and urgent care services: user satisfaction. Einstein, v. 13, n. 4, p. 587-593, 2015.

 

SCHEFFER, M.; CASSENOTE, A.; GUILLOUX, A. G. A.; BIANCARELLI, A.; MIOTTO, A.; MAINARDI, G. M. Demografia Médica no Brasil 2018. –Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP; Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; Conselho Federal de Medicina, 2018. 286 p.; tab. il. ; 21x29,7 cm

 

Universidade Federal do Maranhão. UNA-SUS/UFMA. Redes de atenção à saúde: rede de urgência e emergência - RUE/Marcos Antônio Barbosa Pacheco (Org.). - São Luís, 2015.

42f.: il.

<http://www.abramede.com.br> acesso dia 25 de novembro de 2018.

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